“Imanência e Transcendência: O Ser Humano na Filosofia e Religião”
Tema: O ser humano se constrói a partir de um conjunto de relações tecidas em determinado contexto histórico-social, em um movimento ininterrupto de apropriação e produção cultural. Nesse processo, o sujeito se constitui enquanto ser de imanência (dimensão concreta, biológica) e de transcendência (dimensão subjetiva, simbólica). A dimensão da transcendência é matriz dos fenômenos e das experiências religiosas, uma vez que, em face da finitude, os sujeitos e as coletividades sentiram-se desafiados a atribuir sentidos e significados à vida e à morte. Na busca de respostas, o ser humano conferiu valor de sacralidade a objetos, coisas, pessoas, forças da natureza ou seres sobrenaturais, transcendendo a realidade concreta. Os termos imanência e transcendência são opostos e designam, respectivamente, aquilo que se encerra em si mesmo e aquilo que tem uma causa maior e exterior a si mesmo. O filósofo antigo, Platão, foi o primeiro a reconhecer a diferença entre uma realidade imanente e uma realidade transcendente em sua Filosofia, pois ele estabeleceu a distinção entre duas realidades: uma realidade material e sensível e outra realidade imaterial, suprassensível. Em geral, a imanência refere-se a algo que tem em si próprio o seu princípio e seu fim. A transcendência, por sua vez, faz referência a algo que possui um fim externo e superior a si mesmo. A imanência está ligada à realidade material, apreendida imediatamente pelos sentidos do corpo, e a transcendência está ligada à realidade imaterial, de uma natureza metafisica e puramente teórica e racional. Desde Platão, a Filosofia tenta lidar com a diferenciação dos dois conceitos, visto que são antagônicos e que suscitam a discussão acerca da validade de cada um ou da superioridade de um deles. Durante a Idade Média, a discussão acerca da validade de cada um desses conceitos dividiu o pensamento entre os filósofos neoplatônicos, como Agostinho, notadamente defensores da superioridade inquestionável da transcendência, e os filósofos aristotélicos, como Tomás de Aquino, que defendiam a validade da realidade imanente. Essa discussão sobre a diferença entre os dois termos permeia a religião e pode ser mais bem visualizada no contexto religioso. Podemos classificar as duas, em relação ao pensamento religioso, da seguinte maneira: • IMANÊNCIA: relaciona-se às religiões panteístas, como as religiões africanas e o hinduísmo. Aqui, a concepção da ideia de Deus não se separa da matéria, sendo parte integrante e indissociável dela. Deus está em tudo, permeia tudo e não é uma entidade criadora, mas, sim, organizadora. Na Filosofia, o pensador holandês Baruch de Spinoza propôs uma ideia de Deus imanente e panteísta, resumida na máxima: Deus sive natura (“Deus, ou seja, a natureza”). Deus seria uma substância presente em tudo e que participa de tudo. 13 • TRANSCENDÊNCIA: a tradição judaico-cristã e islâmica está baseada na noção de um Deus transcendente, ou seja, uma entidade primeira e separada da matéria que foi responsável por criar a matéria. Para o cristianismo, porém, a figura de Jesus Cristo é a personificação imanente do Deus transcendente. CRITICA DE KANT Immanuel Kant, filósofo alemão iluminista, apontou a necessidade de uma crítica revisionista à metafisica feita até então e fez uma distinção entre aquilo que podemos conhecer (o que está presente no tempo e no espaço, portanto, é imanente) e aquilo que podemos apenas entender (aquilo que não está no tempo e no espaço, portanto, é transcendente). Porém, esse pensador adiciona ainda a noção do transcendental, referindo-se a ideias que podem ser obtidas a partir de uma primeira experiência empírica. Embora sejam termos antagônicos, os dois complementam-se, já que a explicação de um torna-se mais clara com a explanação do outro. Vistos do ponto de vista da Religião ou da Filosofia, são conceitos de suma importância para fazer a distinção entre um conhecimento de ordem teórica e um conhecimento de ordem prática.
Etapa/Série: 9º ano
Disciplina: Ensino Religioso
Questões: 10
PROVA DE ENSINO RELIGIOSO – 9º ANO
Tema: O ser humano e as dimensões de imanência e transcendência
Questão 1: (Múltipla Escolha)
O que se refere ao conceito de imanência no contexto das religiões panteístas?
a) A ideia de um Deus que é separado da matéria.
b) A noção de que Deus está presente em tudo e permeia a realidade.
c) A crença em uma entidade criadora que está acima das coisas materiais.
d) A visão dualista de que há uma separação entre o bem e o mal.
Questão 2: (V ou F)
A transcendência, segundo a tradição judaico-cristã, refere-se à ideia de que Deus é uma entidade que não se mistura com a matéria, sendo um criador separado do mundo físico. (V) (F)
Questão 3: (Completar)
Na filosofia, Platão estabeleceu uma distinção entre duas realidades: a realidade _________, que é material e sensível, e a realidade _________, que é imaterial e suprassensível.
Questão 4: (Dissertativa)
Explique como a crítica de Kant à metafísica propõe uma distinção entre o que podemos conhecer e o que podemos entender, relacionando isso com as ideias de imanência e transcendência. Cite exemplos para ilustrar sua resposta.
Questão 5: (Múltipla Escolha)
Qual das seguintes afirmações está correta em relação à concepção de Deus na visão de Spinoza?
a) Deus é um ser pessoal separado da criação.
b) Deus é sinônimo da natureza e se manifesta em tudo que existe.
c) Deus é uma ideia que não pode ser compreendida pela razão.
d) Deus é a causa dos males e sofrimentos do mundo.
Questão 6: (V ou F)
As religiões africanas consideram a natureza como algo sagrado, refletindo uma perspectiva de imanência. (V) (F)
Questão 7: (Completar)
Durante a Idade Média, os filósofos neoplatônicos defendiam a superioridade da _________, enquanto os aristotélicos, representados por Tomás de Aquino, sustentavam a validade da _________.
Questão 8: (Dissertativa)
Refira-se a como a busca de significado e sacralidade no ser humano transcende as realidades materiais, justificando esta afirmação com base nos fenômenos religiosos que se manifestam em diferentes culturas.
Questão 9: (Múltipla Escolha)
Qual conceito Kantiano se refere à compreensão das ideias obtidas a partir de experiências que podem ser sensivelmente percebidas?
a) Imanência.
b) Transcendência.
c) Transcendental.
d) Metafísica.
Questão 10: (Dissertativa)
Discuta a relação entre imanência e transcendência no contexto das experiências religiosas. Como esses conceitos influenciam as compreensões de vida e morte nas diversas tradições?
GABARITO
Questão 1: b) A noção de que Deus está presente em tudo e permeia a realidade.
Justificativa: O panteísmo apresenta Deus como onipresente e indissociável da matéria.
Questão 2: (V)
Justificativa: A afirmação reflete a visão tradicional da transcendência em tradições religiosas como a judaico-cristã.
Questão 3: material / imaterial
Justificativa: Refere-se às duas coordenadas de realidade que Platão discute em sua filosofia.
Questão 4: A resposta deve mencionar que Kant distingue entre o que podemos conhecer (imanente) e o que podemos apenas entender (transcendente). Exemplo: podemos conhecer o mundo físico, mas entender Deus é diferente.
Questão 5: b) Deus é sinônimo da natureza e se manifesta em tudo que existe.
Justificativa: Esta é a essência do panteísmo proposto por Spinoza.
Questão 6: (V)
Justificativa: As religiões africanas possuem uma visão de sacralidade intrínseca à natureza.
Questão 7: transcendência / imanência
Justificativa: Essa é uma dicotomia central no debate filosófico da época em questão.
Questão 8: A resposta deve abordar como humanos, diante da finitude, buscam significados que se extrapolam do material, refletindo experiências religiosas universais.
Questão 9: c) Transcendental.
Justificativa: O conceito está relacionado ao que se pode entender a partir das experiências.
Questão 10: A resposta deve incluir discussões sobre como as diferentes tradições alcançam significado através da interação entre as realidades imanente e transcendente, e como isso se reflete nas compreensões da vida e morte.
Observações Finais:
As questões foram elaboradas com um nível de dificuldade variado, promovendo a reflexão crítica e a análise do conteúdo apresentado.
