“Questões Desafiadoras: Isso é Arte? Avalie sua Compreensão!”

TEXTO BASE

Em 1961, o italiano Piero Manzoni (1933-1963) criou a obra Merda d’artista. No rótulo, o registro do conteúdo das latinhas: 30 gramas de fezes do próprio artista, “recém-preservadas, produzidas e enlatadas em maio” do mesmo ano. Parece uma ideia chocante pessoas terem realmente comprado um exemplar da obra, ainda mais por um preço tão alto. Contudo, o valor da obra consistia em seu conceito, e não em sua matéria ou na habilidade manual do artista. Manzoni criou, ali, uma reflexão sobre a arte, o artista, o público e, principalmente, sobre a comercialização e a idolatria criadas sobre tudo isso. Afinal, com a influência dos Estados Unidos e de outros países nos países europeus, bem como a propagação da ideia de que quanto mais se pudesse comprar, melhor a vida seria, até mesmo a arte e os artistas se tornaram mercadorias. Foi satirizando a ideia de se venderem “relíquias” do corpo do artista e também para dar prosseguimento à concepção de arte criada por Marcel Duchamp (1887-1968), no começo do século XX, de que a arte é definida pelo artista, que Manzoni desenvolveu sua obra.

Ele encontrou uma maneira bastante efetiva de demonstrar a arte como um produto realizado pelo artista da maneira mais íntima e particular possível, vindo da digestão do que consumiu e que, então, foi materializado e entregue ao público como peça de colecionador. Talvez quem as comprou tenha estado no centro da ambiguidade de compactuar com o questionamento do artista e fazer parte da problemática exibida pela obra. Até hoje, aliás, as latinhas podem ser compradas de quem as comprou e por valores que se tornam progressivamente mais polêmicos do ponto de vista do senso comum: atualmente cada uma vale mais de duzentos mil dólares!

No mundo da arte, essa obra já está consagrada como algo inovador e que acrescentou sentidos às novas concepções de arte que ocorreram no século XX. De qualquer forma, obras como a de Manzoni costumam sofrer rejeições em um primeiro momento. Há um bom tempo, a história se repete: uma arte inovadora choca e é rejeitada pelo público. Décadas depois, ela se torna oficialmente consagrada, e sua importância chega até mesmo ao público mais leigo. Você conhece outras histórias assim?

A arte moderna, até o meio do século XX, chocou muita gente. Atualmente, tem muito de seu reconhecimento merecido. Chamamos genericamente de arte contemporânea a arte feita desse momento em diante. Ela não tem uma data de início, assim como a arte moderna não tem uma data de fim. Apenas sabemos que há muito para se conhecer e compreender após o momento dessa transição, pois só cresceram as possibilidades de se darem significados à arte.

Então, como podemos olhar para uma obra de arte contemporânea e julgá-la com o ideal de quem espera uma arte que imite a realidade? Assim, a partir dos anos 1950, surgiu a arte conceitual – uma arte cujo foco eram as ideias, e não a técnica. Um jogo de xadrez cujas peças são todas brancas, e que provavelmente não foi confeccionado pelas mãos da artista, também pode ser arte?

No jogo de xadrez branco, alguém ganha ou perde? Quando as peças se misturam em meio às movimentações escolhidas pelos jogadores, há rivais (ou inimigos)? Como a obra trata do assunto da paz?

Muitas das obras de Yoko Ono são interativas e convidam o público a pensar em suas relações individuais e com as pessoas, sob a ótica de tornar o mundo um lugar melhor. A obra Árvore dos desejos, por exemplo, pede ao público que escreva seus desejos em papeizinhos brancos e os amarre delicadamente nos galhos das árvores disponibilizadas no espaço expositivo.

A arte conceitual abrange uma gama imensa de temas e possibilidades e, como já vimos, nem sempre os assuntos tratados pelos artistas são imediatamente agradáveis ao público, como uma árvore dos desejos. A cultura dos Estados Unidos dos anos 1950 estava influenciando fortemente outros lugares do mundo. Isso ocorreu porque, diante da vitória na Segunda Guerra Mundial, o país ganhou grande poder político e econômico, além de oferecer suporte econômico a países europeus devastados pela guerra. Isso fez os Estados Unidos serem exaltados e sua cultura ser facilmente difundida. Nesse pacote de influências, estavam, além do rock and roll, os filmes de Hollywood e o chamado American way of life (estilo de vida americano) – com forte base no consumismo.

Marina Abramovic (1946) é uma artista sérvia considerada a madrinha da performance. Em 1965, foi estudar pintura na Academia de Belas Artes de Belgrado. Observou nesse período, porém, que a pintura não era suficiente para atender a sua expressividade, adotando, então, a performance como seu principal instrumento para disseminar seus sentimentos. Suas performances envolvem abordagens ligadas às questões de identidade de gênero, aos limites do corpo e às possibilidades da mente. Em 2010, fez uma performance ao vivo no MoMa, em Nova York, chamada The artist is present (A artista está presente). Durante três meses, todos os dias e várias horas, Abramovic sentava-se em silêncio em uma cadeira de frente para outra cadeira vazia. De maneira espontânea, as pessoas se sentavam nessa cadeira vazia e ficavam ali, olhando para ela, o maior tempo que conseguissem. Foi então que a artista recebeu uma grande surpresa. Seu ex-marido e também artista, Ulay, sentou-se na cadeira vazia. Ela ficou muito emocionada com a presença dele, fazendo, assim, a performance ganhar uma enorme popularidade no mundo todo.

Questões de Avaliação

1. Nível de Dificuldade: Difícil

   Qual é o principal conceito abordado na obra Merda d’artista de Piero Manzoni?

   • A) A habilidade técnica do artista na criação da obra.
   • B) A comercialização e o valor simbólico da arte.
   • C) A imitação da realidade como essência da arte.
   • D) A crítica à influência da cultura americana na arte.
   • E) A importância das fezes como material artístico.

2. Nível de Dificuldade: Difícil

   Como a obra Merda d’artista reflete a relação entre arte e consumismo?

   • A) A obra é uma celebração do consumismo na arte.
   • B) A obra critica a transformação da arte em mercadoria.
   • C) A obra mostra que a arte deve ser acessível a todos.
   • D) A obra ignora o papel do artista no mercado de arte.
   • E) A obra sugere que o valor da arte está na sua matéria.

3. Nível de Dificuldade: Difícil

   Qual a característica principal da arte conceitual mencionada no texto?

   • A) Foco na técnica e habilidade do artista.
   • B) Valorização da ideia em detrimento da forma.
   • C) Rejeição ao diálogo com o público.
   • D) Necessidade de imitar a realidade.
   • E) Exclusividade do uso de materiais tradicionais.

4. Nível de Dificuldade: Difícil

   O que a performance “The artist is present” de Marina Abramovic revela sobre a interação entre artista e público?

   • A) A indiferença do público em relação à arte.
   • B) A capacidade da arte de provocar emoções profundas.
   • C) O distanciamento entre artista e espectadores.
   • D) A irrelevância da presença física do artista.
   • E) A limitação da performance como forma de arte.

5. Nível de Dificuldade: Difícil

   Qual a influência da cultura dos Estados Unidos na arte contemporânea, conforme mencionado no texto?

   • A) Estímulo ao desenvolvimento de técnicas tradicionais de pintura.
   • B) Difusão de um estilo de vida consumista que afeta a produção artística.
   • C) Rejeição total de artistas europeus.
   • D) Valorização exclusiva da arte moderna.
   • E) Criação de uma nova forma de arte baseada em tradições locais.

6. Nível de Dificuldade: Difícil

   Como a obra “Árvore dos desejos” de Yoko Ono contribui para a reflexão sobre relações humanas?

   • A) Ao incentivar a competição entre os participantes.
   • B) Ao promover a individualidade em detrimento da coletividade.
   • C) Ao convidar o público a expressar seus anseios coletivos.
   • D) Ao utilizar materiais que não têm valor artístico.
   • E) Ao restringir a participação a um grupo específico.

Gabarito

1. B
2. B
3. B
4. B
5. C
6. C