Questões de Interpretação: O Misterioso Rapto de Flor-do-Sereno
Questões sobre: Texto Base
Introdução
O texto “O Misterioso Rapto de Flor-do-Sereno”, escrito por Haroldo Bruno, apresenta uma narrativa rica em imagens poéticas e reflexões sobre a realidade e o mundo dos sonhos. Através da perspectiva de Zé Grande, o autor nos convida a explorar a beleza e a complexidade da experiência humana, onde a poesia e a imaginação se entrelaçam com a vida cotidiana.
Essas questões foram elaboradas para avaliar a compreensão e interpretação do texto, assim como o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos. Ao responder, os estudantes terão a oportunidade de refletir sobre os sentimentos que a leitura provoca e a relação entre fantasia e realidade.
TEXTO BASE
Eu me sinto é que nem criança, dobrasdaleitura copiando Haroldo Bruno:
O dia emendava com a noite: era a hora do poente que se anunciava. Como quem nada, o sol se despedia em clarão vermelhaço, a brisa amaciando o capim, o voo hesitante dos pássaros e os primeiros morcegos a se debaterem contra as copas. Um galo cantou — cocoricó! — julgando por certo fosse de madrugada. Aí Zé Grande sentiu um aperto danado no coração. Nada que pudesse definir, uma sensação de que boiava, como o próprio tempo que sobre as coisas se estendia.
Mas de repente, silêncio imenso baixou nas suas pálpebras. As árvores pareceram se iluminar por dentro, até as pedras ficarem transparentes. As poças d’água viraram espelhos, tudo que era sujo e feio ganhou estranha boniteza.
— Está sonhando, Zé? — escutou uma voz tão longe que podia vir de seu espírito ou dos confins do mundo.
Sonhando? — repetiu para si mesmo, num eco. E beliscou o rosto, os braços. Não é possível. Talvez esteja sonhando que sonho, e por esse descaminho de fantasia me perco. Uma sombra, um sonâmbulo entre coisas tão exatas. Finjo que sonho, melhor dizendo, para não me espantar com o que vejo. Deixo que sobre os meus cabelos, vinda das ramagens ou das estrelas, caia essa poeira luminosa, e meus ouvidos se encham de um silêncio que agora é a mais perfeita das músicas. Um simples olhar, a posição do corpo, um jeito que se dá nas lembranças e nas ideias — e despertamos para o encantamento. É a minha iniciação no mistério, no sonho acordado. Ou será que é fome?
Nisso, no justo momento, a Voz novamente:
— Não é fome nem nada, Zé. É a poesia. Ela só vem quando nos sentimos assim, como se nus estivéssemos diante das coisas, desligados das aparências do mundo. Mas sem esquecer o mundo, a gente que mora nele. Criando outros mundos. Leves. O coração sem ódio.
— Mas eu me sinto é que nem criança, imaginando os impossíveis — respondeu Zé Grande.
— Isso mesmo. A poesia é um dom das crianças. Mas não há nada de impossível em tudo isto.
— Então é real cair chuva de luz nos cabelos da gente?
— Sim, Zé.
— E ver moças dançando? bailarinas vestidas de folhas e com lanternas na mão?
— Sim, Zé.
— E ouvir música sem saber donde vem?
— Sim, sim, Zé. Tudo é verdadeiro no reino em que você está. E lhe pergunto agora: sabe quem são estas moças?
— Não sei, mas me lembram alguém.
— Pois são Flor-do-Sereno.
— Como? Flor-do-Sereno é somente uma e mais ninguém.
— Ora, Zé. A poesia multiplica tudo. Na dança do sonho, Flor-do-Sereno é muitas e ela só.
— Não enxergo o rosto dela, os olhos, a cor da pele, o sorriso que me doma.
— Mania de que tudo seja certinho… Só porque as coisas às vezes não se apresentam inteiras, acabadas, não quer dizer que elas não existem. Vê aquele homem ali, trepado no galho maior?
— É meu pai. E aquilo que ele toca é o pífano perdido.
— Sem tirar nem botar.
Logo a Voz foi morrendo nas quebradas, se confundindo com os cochichos das plantas sonolentas. Tudo regressou à condição desencantada de antes, e a noite já era completamente. Zé Grande gritou com angústia, tentando agarrar a Voz que fugia:
— Não vou encontrar o pífano de meu pai? Não terei mais Flor-do-Sereno?
Questões
-
Questão 1: Associe as descrições do texto com suas respectivas sensações ou símbolos apresentados.
- A. O sol se despedia em clarão vermelhaço – 1. Sensação de despedida e transição.
- B. As poças d’água viraram espelhos – 2. Reflexão e beleza nas coisas simples.
- C. O silêncio imenso – 3. Um momento de introspecção e paz.
- D. A chuva de luz nos cabelos – 4. A magia da infância e da poesia.
Nível de dificuldade: Médio
Habilidades/competências avaliadas: Interpretação e associação de ideias.
-
Questão 2: Analise a frase “A poesia multiplica tudo”. O que essa afirmação sugere sobre a visão de Zé Grande em relação à realidade e à fantasia?
Nível de dificuldade: Médio
Habilidades/competências avaliadas: Análise crítica e reflexão.
-
Questão 3: Verdadeiro ou Falso: Assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.
- A. Zé Grande sente um aperto no coração quando o dia se despede. ( )
- B. A voz que Zé escuta é um eco de sua própria mente. ( )
- C. Flor-do-Sereno é uma única entidade e não pode ser multiplicada. ( )
- D. A poesia é associada a sentimentos de amor e liberdade. ( )
Nível de dificuldade: Médio
Habilidades/competências avaliadas: Compreensão do texto.
-
Questão 4: O que Zé Grande deseja encontrar ao final do texto? Explique a importância desse desejo na narrativa.
Nível de dificuldade: Médio
Habilidades/competências avaliadas: Interpretação e reflexão crítica.
-
Questão 5: Como o autor utiliza a figura do “silêncio” para transmitir sentimentos no texto? Dê exemplos.
Nível de dificuldade: Médio
Habilidades/competências avaliadas: Análise crítica e interpretação.
Gabarito Comentado
-
Resposta correta: 1A, 2B, 3C, 4D.
Justificativa: As associações refletem as sensações que cada elemento do texto provoca. O sol se despede, o que é uma transição; as poças d’água mostram a beleza nas coisas simples; o silêncio traz paz; e a chuva de luz simboliza a magia da infância.
-
Resposta esperada: A frase sugere que a poesia tem a capacidade de ampliar a percepção da realidade, permitindo que Zé Grande veja beleza e significado em aspectos que normalmente poderiam passar despercebidos.
Justificativa: Essa visão reflete a conexão entre a infância e a capacidade de sonhar e imaginar.
-
Resposta correta: V, V, F, V.
Justificativa: A primeira e a segunda afirmações são verdadeiras, pois refletem momentos do texto. A terceira é falsa, pois no contexto da poesia, Flor-do-Sereno é multiplicada. A quarta é verdadeira, pois a poesia é associada a sentimentos positivos.
-
Resposta esperada: Zé Grande deseja encontrar o pífano de seu pai e Flor-do-Sereno, o que representa a busca por conexão, memória e o encantamento da infância.
Justificativa: Esse desejo é central para a narrativa, pois mostra a luta de Zé entre a fantasia e a realidade.
-
Resposta esperada: O silêncio é usado para criar momentos de introspecção e reflexão. Por exemplo, quando Zé Grande sente um “silêncio imenso” que lhe traz paz e conexão com a natureza.
Justificativa: O silêncio é um elemento que acentua a sensação de encantamento e a busca pela beleza nas pequenas coisas.